O Plano de Maggie e Snowden

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Motivado pelo interessantíssimo mês de novembro nos cinemas, volto aos poucos com esse espaço. Dois dos melhores roteiros do ano acabam de estrear: Elle A Chegada. Enquanto não atualizo os comentários sobre essas preciosidades, vale dar uma espiada em alguns outros filmes.

O Plano de Maggie

Roteiro de Rebecca Miller

Ainda é possível fazer um filme com elementos da screwball comedy, em que uma garota amalucada vira do avesso a mente de um homem moralmente convencional. Aqui temos quase um filme de Howard Hawks, Preston Sturges ou Bogdanovich, mas respeitando o limite de velocidade, com andamento bem distinto (geralmente sempre nas marginais de São Paulo, ou seja, variando entre 50km/h e 70km/h). Portanto não há aquela corrida desenfreada nem tantos riscos, mas é uma delícia ver duas mulheres brincando com o amor de Ethan Hawke.

Greta Gerwig e Julianne Moore (irresistível) formam uma excelente dupla e os coadjuvantes de luxo (Bill Hader, Maya Rudolph) dão ainda mais gás para os momentos cômicos.

Com imenso prazer, Rebecca abusa das insanidades de suas duas protagonistas e faz uma perfeita anti-comédia romântica. Todos os elementos estão ali: pessoas atraentes e bem-sucedidas; uma cidade apaixonante, com suas estações emoldurando os sentimentos; um homem charmoso e inteligente. Mas cada cena é construída em cima dessa base, para logo ser impiedosamente destruída com um comentário jocoso ou uma situação inusitada.

Cena-símbolo: a inaptidão de Greta para tentar fertilizar o próprio corpo.

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Snowden – Herói ou Traidor

Roteiro de Oliver Stone e Kieran Fitzgerald

Um Oliver Stone sóbrio e domesticado, sem grandes arroubos, ainda assim interessantíssimo, capaz de dar conta de uma empolgante história real. Tão bem narrado, com ótimas apresentações e desfechos, que parece às vezes um filme de Steven Spielberg (pela sua capacidade de comunicar as coisas certas na hora certa).

O mais importante: não se perde – nem desperdiça – os dois tempos da narrativa (presente e passado). Consegue ir e voltar sem incomodar e usa com eficácia a trilha sonora e as diversas paisagens (Hong Kong, Havaí e Washington em especial).

Elenco contido, com ótima performance de Joseph Gordon-Levitt, e bons detalhes captados do indispensável documentário de Laura Poitras (Citizenfour).

O subtítulo “Herói ou Traidor” é uma bobagem, pois em nenhum momento o filme se debruça sobre os personagens que poderiam – com razão – identificarem Snowden como um dedo-duro motherfucker.

Oliver Stone escolhe o lado de seu protagonista e procura entender as razões que levaram um nerd genial e patriota a balançar as estruturas da espionagem secreta norte-americana.

O filme entrega o que promete: mesmo que seja chapa branca (o que a participação do próprio Snowden corrobora), dá conta de mostrar as mudanças de comportamento de um personagem crucial para a história política dos últimos anos. Muito disso porque a obra se estica um tanto para além das duas horas. Ainda bem. Não é necessário correr, pois o tema é árido.

Cena-símbolo: quando Snowden rouba os segredos de Estado do bunker havaiano. Além da tensão natural, pois ali é o momento que esperamos durante todo o filme, há o uso de diversos elementos plantados durante toda a trama (em especial a imagem do cubo mágico).

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